Hoje em dia existe um certo modismo relacionada a dieta com restrição de alguns alimentos com objetivo de emagrecimento mas que está se estendendo às crianças. A retirada da proteína do leite, lactose, glúten da alimentação está cada vez mais presente e está sendo incorporada a dieta familiar.
Se a dieta do adulto é isenta de carboidrato, glúten ou lactose, é provável que seu filho queira seguir seus hábitos. Mas essas restrições sem indicação médica podem trazer prejuízos para o desenvolvimento das crianças.
Se, para os adultos, excluir certos alimentos traz sérios impactos ao organismo, desde deficiência nutricional até o famoso “efeito sanfona”, para as crianças pode prejudicar o desenvolvimento físico e cognitivo, além de marcar profundamente a forma como os seus hábitos alimentares serão sedimentados. Uma pesquisa realizada pela Universidade de Aston, no Reino Unido, com crianças de 3 a 5 anos, revelou que aquelas cujos pais tentavam controlar mais sua alimentação apresentaram maior tendência a desenvolver uma relação emocional com a comida, buscando alimentos não por fome, mas por estresse ou tristeza.
Além disso, toda vez que se corta algum grupo alimentar, a dieta imediatamente fica desequilibrada. Por isso, mesmo nos casos de obesidade infantil ou de crianças com problemas de saúde, como colesterol alto e diabetes, raramente os pediatras eliminam uma categoria inteira de alimentos. Apenas cuidam da qualidade e das quantidades dos nutrientes consumidos.
Entretanto, existem algumas situações em que as restrições são necessárias e as indicações devem ser bem claras. Casos de alergia alimentar, como alergia à proteína do leite de vaca, doença celíaca e intolerância à lactose devem ser avaliados criteriosamente pelo especialista.
A alergia à proteína do leite de vaca (APLV) não é a mesma coisa que intolerância à lactose. A APLV é uma reação imunológica à proteína do leite de vaca (caseína) e pode surgir nos primeiros meses de vida. Os sintomas são variados e incluem sintomas digestivos como vômitos, diarreia, refluxo, evacuações com sangue, sintomas cutâneos como urticária e dermatite atópica, sintomas respiratórios como asma e chiado no peito e o mais grave, a reação anafilática. Os sintomas podem surgir minutos, horas ou dias após a exposição.
O tratamento é através da retirada de leite e derivados da dieta da criança. Se a mãe estiver amamentando, o aleitamento materno não deve ser suspenso mas a mãe deve retirar o leite de vaca e seus derivados de sua dieta. O leite será substituído por fórmulas especiais sem a proteína do leite. O consumo de leite de outros mamíferos (cabra, ovelha) também é proibido assim como produtos industrializados que contenham traços de leite, soro do leite, proteína do soro. Na APLV o rótulo dos alimentos sempre deve ser lido para evitar a exposição e riscos à saúde da criança.
A intolerância a lactose é a dificuldade do organismo em digerir um açúcar do leite, a lactose devido a diminuição de uma enzima chamada lactase. Os sintomas são apenas digestivos com cólicas, distensão abdominal e gases. É mais comum em adultos do que em crianças e a intensidade dos sintomas vai depender da quantidade de leite ingerida. O tratamento é através da diminuição do consumo de leite ou fórmulas com teor de lactose reduzida. O aleitamento materno deve ser mantido. Existem fórmulas sem lactose para crianças até dois anos. Muitas vezes o paciente tolera os derivados de leite pois o teor de lactose é menor quando comparado ao leite.
Outra doença que necessita de restrição alimentar é a doença celíaca. Nesse caso ocorre uma reação imunológica ao glúten causando inflamação intestinal grave o que pode levar à desnutrição por má absorção de nutrientes. É uma doença genética e o único tratamento é através da retirada do glúten na dieta que está presente no trigo. Os sintomas surgem na infância e se caracterizam por alterações gastrointestinais como diarreia, distensão abdominal, desnutrição e atraso no crescimento. O diagnóstico é feito através de exames de sangue e biópsia intestinal.
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