A Voz do Especialista

O sangramento durante a gestação, apesar de ser bastante comum, não é considerado normal em nenhuma fase da gravidez. Por isso é objeto de dúvidas e merecedor de atenção tanto por parte da gestante quanto do seu médico pré-natalista. 

Sabemos que o risco de abortamento na população geral gira em torno de 15% enquanto a taxa de sangramento até 14 semanas de idade gestacional pode acometer até 40% das gestações. Isso nos leva a crer que a maioria das causas de hemorragia não levam a um comprometimento definitivo da gravidez. Podemos considerar como causas não clinicamente significativas de sangramento aquelas que ocorrem durante o processo de nidação, ou seja, durante implantação do saco gestacional no útero materno. Esse sangramento ocorre mais comumente até 6/7 semanas de idade gestacional e tem um fluxo auto limitado. Outra causa de sangramento comum na gestação é o sangramento pós-coito, que na verdade pode ocorrer em qualquer fase da gravidez. Esse tipo de sangramento está geralmente associado a leves traumatismos do colo uterino causados durante o intercurso sexual, não ocorrendo nenhum tipo de ligação direta com a gestação em si. 

Em todos os casos de hemorragias do início da gravidez é importante a observação de sinais e sintomas clínicos, como volume, aspecto do sangramento e a presença de cólicas abdominais.

Caso esses sintomas ocorram em grande intensidade, podem constituir fatores de risco para o abortamento. Nos casos duvidosos, destaca-se a importância do o exame físico ginecológico, que irá orientar a necessidade da realização de exames complementares. A ultrassonografia transvaginal pode ser empregada para a avaliação do bem estar embrionário, enquanto a dosagem de Beta-hcg no sangue materno constitui um “marcador indireto” da vitalidade embrionária por representar a atividade trofoblástica da gestação. 

Em raras situações especiais o sangramento de 1o trimestre poderá estar associado à presença de gestação ectópica, a grande maioria dessas localizada nas trompas uterinas, ou ao abortamento molar. Nesses casos, o acompanhamento por profissional especializado é fundamental para garantir o correto diagnóstico diferencial e o bem estar materno.

Dessa forma, podemos observar que uma ampla variedade de condições clínicas  podem ser responsáveis pelo sangramento nos primeiros 3 meses de gestação. Devemos considerar o diálogo fluido e irrestrito entre gestante e  o profissional de saúde que a está acompanhando como peça fundamental na abordagem do sangramento na gestação inicial.

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Dr. Paulo Nassar é Pós-Doutor em Medicina Fetal pela University of Southern California – EUA, Mestre e Doutor em Saúde da Mulher e da Criança pelo Instituto Fernandes Figueira /FIOCRUZ, Coordenador da Obstetrícia e do Centro de Diagnóstico da Clínica Perinatal Barra – RJ. Atende no Centro Médico Richet da Barra – Av das Américas 4801 sala 224 telefones: 21461996 ou 969811567.

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