Reproduzo abaixo o texto escrito por Leo Aversa sobre a mãe do grupo da escola do wathsaap.
O texto é uma ironia, mas infelizmente já tive o desprazer de ler algo bem parecido.
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A mãe de todos os grupos
A dura vida de alunos e professores depois do WhatsApp
– Pedrinho levou uma bronca, vocês podem acreditar?
– Uma bronca? Como assim? O que essa professora tá pensando? Tá doida?
– Pois é, olha a petulância: ele estava conversando com a Valentina sobre o novo iPad que ganhou, e a atrevida chamou a atenção deles. Pode?
– Essa mulher é muito insolente…
– Pedrinho chegou chorando em casa! Essa mulher fez meu Pedrinho chorar!
– Vamos fazer um abaixo-assinado!
Não é uma célula do Estado Islâmico, não é uma facção paulista. É um diálogo no Grupo de Mães no Whatsapp, o xerife da educação nacional.
– Vocês leram o livro recomendado pela escola?
– Menina! Que horror! E não é que o lobo come a vovozinha? Absurdo! Valentina não dorme há três dias! Fica me perguntando se um lobo vai comer a sua avó! E o psicólogo dela está de férias! Tô desesperada.
– Mas que falta de sensibilidade dessa professora! Não vê que são crianças! Crianças!
– Soube que na outra turma passaram um filme, um desenho animado antigo e superviolento. Já no começo dão um tiro na mãe do veadinho! Além de violento, homofóbico!
– Foi bala perdida? Essa violência tá incontrolável! Tão sabendo que tem uma quadrilha rondando a escola, né? Me passaram a notícia num outro grupo de Whats.
– Também recebi! Sequestram as babás e mandam pra China de submarino, para vender o cabelo e as unhas, com o resto fazem hamburgueres pro McDonald’s. Saiu num site.
– Só as babás? Menos mal… Quer dizer, que absurdo! Esses chineses são esquerdopatas bolivarianos! Li um texto no Face sobre isso.
O corpo de baile do grupo é composto de mães normais, mas as solistas são as sem-noção e as surtadas. São elas que dão o tom. Que é algo entre a superproteção e o alarmismo, com um perfume inconfundível de reacionarismo classe média.
– ‘migas’, e essa história de campeonato de futebol…? Pedrinho tá horrorizado! Ano passado ele não ganhou e chorou sem parar na entrega dos troféus…
– O professor de educação física é um tirano! Já falei cem vezes pra ele que não deveria haver competição, muito menos vencedores! Só medalha de participação!
– Isso! Senão fica meia dúzia feliz e o resto traumatizado! É muita crueldade! Como explicar para uma criança que ela não ganhou? Vamos fazer um abaixo-assinado pra tirar esse professor petulante!
– A criança fica abalada pro resto da vida! Vi no outro grupo que já é uma epidemia mundial! Tem até um nome, SDM, Síndrome da Derrota Mirim! Nem Ritalina dá jeito! Tem que entrar direto no Prozac!
Para as solistas, o mundo existe para frustrar as crianças. A escola então, nem se fala, só está lá para estragar a vida dos pequenos. A função do grupo de WhatsApp das mães é evitar tal tragédia.
– Gente, vocês não sabem: Valentina hoje foi tomar um picolé na cantina, e o picolé caiu no chão!
– Como assim? Como assim?
– Caiu da mão dela!
– Mas a professora não estava lá para pegar no ar? A escola não providenciou outro? Que loucura!
– Coitadinha! Ela tá bem? Levaram pro Copa d’Or?
– Tá em estado de choque, é claro, diz que não quer mais tomar sorvete na vida! Na vida!
– Inacreditável! Como permitem que algo assim aconteça! E com a mensalidade que a gente paga!
– Brasil, né? Amiga minha disse que lá fora isso jamais acontece.
– Isso aqui tá demais! Demais! Pra começar tem que acabar com picolé e casquinha na escola, aquilo é só problema, sorvete só no copinho. E com pratinho embaixo.
– Isso amiga, genial!
– Vamos fazer um abaixo-assinado.
(Autor: Leo Aversa para Projeto Colabora)