Esse assunto é um pouco incômodo, é daqueles que coloca luz em questões que nos força a se encarar, a confessar nossos privilégios e a mudar se quisermos uma sociedade mais justa.

Todos nós sabemos que o Brasil, ainda é um dos poucos países que possui a figura da empregada doméstica. Ela limpa nossa casa, lava nossas roupas, faz nossa comida e em muitas casas ainda servem seus patrões como se fossem amos.

É um “privilégio” quase feudal que vivemos, uma mão de obra barata, que faz o trabalho que ninguém quer fazer consequente de uma enorme desigualdade social.

Quando viajamos para países mais desenvolvidos isso não existe. Vemos tanto em casa, quanto nas escolas adultos e crianças fazendo o trabalho delegado aqui à essas camadas.

E a questão é que nossos filhos crescem, assim como nós crescemos (me incluo nessa sem me orgulhar disso), achando que é natural ter uma pessoa que faça esse trabalho. A maior parte não faz a própria cama, não varre o quarto, não lava o prato que sujou e assim por diante.

Essa reflexão me veio numa conversa com uma amiga quando confessamos uma a outra uma atitude de nossos filhos que nos deixou perplexa. No meu caso, João deixou cair comida no chão, dissemos para ele limpar e ele respondeu que a Lane (moça que trabalha na minha casa) limparia depois. O filho dela a viu lavando a cozinha e perguntou porque ela estava fazendo aquilo.

Eles são crianças ruins? Claro que não. Têm apenas 3 anos e observam a nossa sociedade e o padrão que as coisas acontecem. Se eu me assustei com essa atitude, também, no mesmo momento pensei: o que eu estou fazendo de errado para ele achar que a única pessoa que tem responsabilidade de limpar a casa é a nossa funcionária?

E por mais que eu lave a louça e arrume a cama aos finais de semana, que mande ele limpar o que ele suja, que ele arrume os brinquedos, a verdade é que é muito mais escancarado o nosso privilégio de todos os dias.

Isso não quer dizer que eu não dê valor ao trabalho doméstico. Valorizo demais, acho que deveria ser muito mais bem remunerado do que é, mas a verdade é que ele não é valorizado (vide a frase do nosso ministro no começo da semana) e só ocorre devido a grande desigualdade social do Brasil.

Desconstruir no nosso país essa visão de que “há alguém para limpar a privada e esse trabalho não é digno que eu faça” é bem difícil, porque quando vemos já estamos agindo assim quando simplesmente o nosso filho nunca nos vê limpando a privada.

Eu sei que pra grande maioria da população o que eu escrevi não faz o menor sentido, mas se faz para você tanto quanto faz para mim a gente precisa no mínimo mostrar os problemas sociais e a consequência deles no lugar que vivemos. O mundo lá fora não é assim.

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Carol Nazar é criadora do Carol Nazar Babies, onde compartilha suas experiências sobre maternidade.

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